28.11.10


catarina miranda
emmy curl ou
cat rain


pérola perfeita. menina encantada que nos leva por bosques e contos de maravilhar. o prazer de a ouvir é equivalente, atrevo-me, a sentimentos comovidos por almas complexas sem máscaras. é a entrega e a magia e a doce voz que nos agarra e nos desfaz. em mil pedacinhos.

27.11.10

vulgar sacrilégio.

dá-me um último veredicto. pois eu acredito que não há nenhuma coisa viva no mundo do pensamento ou do movimento em relação à qual a dor vibre em pulsação terrível , ainda que extraordinária. a dor é a mais sensata das criaturas. wilde diz que os dias de humilhação e infâmia são diferentes dos de grandeza e de fama. talvez seja comparação feia e rude. mas a verdade é que a ferida que sangra só estanca quando lhe toca a mão que não admite outra mão que não a do amor. e mesmo então, o mais certo é sangrar de novo. por hábito por mera convulsão incontida ou porque a moral não me ajuda.




so where do the waves go, my love
where do the waves go, my love
sonic or liquid, I don't know
sonic or liquid, I don't know

26.11.10

fake it until you make it!




o romance morreu. e não foste tu que o mataste, fui eu.

25.11.10

tonight everything will be alright
cause today i will sleep the pain away


21.11.10

caprichos do quotidiano (?)




não te ignoro agora. ignoro mais tarde - dizias tu.





desalinho os discos e os livros, os papéis e a roupa...fecho páginas, gavetas, portas. a chave dos próximos dias guardada no bolso das calças que deixei por vestir no último outono. um escrito esquecido. duas ou três linhas de silêncio. poema inacabado. vou vestir o casaco e sair para a rua. acender um cigarro e esperar que no virar de uma esquina alguém me encontre. - há coisas que gostava de ter sido eu a dizer.

20.11.10

corações instáveis


estes são corações que apesar de instáveis não acabam roubados e talvez até se tornem mais fortes por isso. o que antes estava do avesso acaba do direito. porque sem intensão os corpos caem e as bocas dançam e porque os exactos segundos que se antecedem a um beijo acabam por ditar a contra-regra de dois corpos que lutavam para se banir por pudor e teimosia e resistência e medo do escuro para no fim se tomarem sem tabus. em primeira mão. numa inconformada redenção.




há vinte anos atrás, brindávamos a nós.

depois de dez, começámos a brindar aos resistentes.

hoje, brindamos à família.

17.11.10


16.11.10

a guerra fria e eu de lábios vermelhos

prova viva de que estava teatralmente bem para o mundo ver.
o baton vermelho destaca-me das outras, convenço-me. não é nada um lugar-comum.



vermelho-beija-me. há vermelho-apazigua-me. há vermelho-excitante. há vermelho-clássico. há vermelho-provocador. há vermelho-sozinho. há vermelho-sangue. há vermelho-toma-me. há vermelho-a-dois. e há vermelho-mau. vermelho, vermelho. vermelho. logo eu que também não percebo as cores complementares.

hoje no metro, uma menina disse à outra : 'ela tem os lábios vermelhos, não são cor-de-pele como os nossos, também quero.' ouvi, e inevitavelmente sorri, porque aos quatro anos mal elas sabem que era vermelho-mau. e quis esborratar-me de seguida mas não as quis desiludir em plena carruagem e fazê-las conhecer o joker-do-amor cedo de mais.

foste tu o godard e a sua marie que me convenceram a pintar os lábios de vermelho. mas agora apareces com palavras estupidamente francesas e sem modos queres repetir me sem primeiro secares lágrimas e desatares os nós. errado. e já te disse que os lençóis não são para comer enquanto gastas o meu nome.

é o fim meu amor, é o fim.

não sei até que ponto este momento não exigia algo mais solene. mas sem grandes aparatos fecham-se as cortinas e assim pode ser que o coração nem dê conta.

14.11.10


13.11.10


as estradas vertiginosas continuam a passar por mim todas as noites e a minha falta de equilíbrio levou-me a esfolar os joelhos numa mulholland drive e a não chamar a minha mãe. nunca gostei de os esfolar, nem tão pouco de os exibir como marcas de guerra de amores passados. agora mais do que nunca sei que soprar enquanto me desinfectaram as feridas de nada serviu, é um disparate. as grandes dores são sempre mudas, ouvi algures. e não se contam pela quantidade de areia e cinza e memórias e alcatrão e suspiros e sangue e rum que tenham em cima.

dás-me a mão?



7.11.10

mitos do coração


lembro-me com muito carinho. desse tempo, que não há muito tempo atrás. a cumplicidade poética ditava o percurso das palavras que dispensavam os corpos para se conhecerem. as palavras pareciam estar intrinsecamente ligadas e sem necessidades ou exigências. pequenas mensagens refractoras da realidade que permitia a aproximação sem materialização. era como inaugurar técnicas paradoxais da construção da realidade dentro da relação humana com a arte e elevar tudo a um ponto de entrega que até então se desconhecia. foi fácil cair de joelhos. éramos amantes sem nunca o termos sido e sem intenção para tal mas com a mesma cumplicidade.

hoje descubro sozinha que existem coisas que de tão poderosas nunca poderão ser dissecadas sob pena de quando as revirmos a excitação o crescendo e o aperto se afastem de vez. afinal, ter sentimentos escolhidos para alimentar um tornado emocional de média escala não é terapêutico nem faz sentido. as coincidências, essas, continuam a existir. a minha ingenuidade é que fechou para balanço.


a cumplicidade poética não existe, é a lição de hoje. e de amanhã. e depois.



à distância, o silêncio fica demasiado perto da saudade

6.11.10


quero muito comprar um coração de ensaio e erro, pode ser? acho que este se estragou. um novo teria garantia e seria mais resistente. o que tenho está farto de ser remendado e colado. já não trabalha como era costume. ou se atrasa ou se adianta, o manipulo está descontrolado. travões não tem e sofre de fluxo condicionado. as mossas deixaram de ser à superfície e tornaram-se buracos corroídos pela ferrugem onde as aranhas constroem casa. um coração novinho em folha vinha mesmo a calhar. vem por ai o inverno e eu queria muito um coração novo e a estrear. é que os corações novos são sempre mais quentes.

tens trocos?

5.11.10






será que o sol é o coração de um corpo?

4.11.10

existe qualquer coisa de muito especial quando se pisa o chão de um castelo. o seu legado de significados não é mais do que memória colectiva modelada pelo passar do tempo materializada num conjunto de testemunhos mudos que reforçam o sentimento de identidade de quem por lá passou. tem algo de muito encantador deixarmos nos levar pelos sentidos. deixar que onde há muros vejamos as batalhas destemidas amores perpétuos fantasmas sombrios o uivo do trovador e tudo e mais que a poesia do nosso olhar ditar. pisar o chão de um castelo traz lendas e epopeias e mitos e já dizia f. pessoa que o mito é o nada do tudo. gosto da expressão poética em cada pedra erguida em cada caminho já outrora mil vezes percorrido por quem confessou o seu amor e entregou o coração na mão do outro. que entre juras e promessas não se livrou de ser engolido por uma boca infernal de uma tempestade de feitiços. desaparecer para sempre. a beleza. a conquista. um local cercado de histórias. as aparições secretas. as portas que se fecharam para se escancararem portões. as lamurias dilacerantes de pactos de sangue. basta prestar atenção. quando se viaja por um castelo tem de ser com entrega shakespeariana. tem de ser avassalador andar pelo mundo dos antigos guerreiros fantasmas bruxos magos reis rainhas príncipes e formosas princesas. é fazer parte das histórias e segredos guardados pelo tempo.

2.11.10

aloha

1978-2010

durante muitos anos estive directa e indirectamente ligada ao mundo surf. não querendo ser diferente de quem se apaixona por este mundo fiz todas aquelas coisas que se julgam quase impensáveis. levantar às 5h30 para surfar antes do trabalho. apanhar o autocarro para a costa com prancha debaixo do braço e fato ainda molhado do dia anterior a transbordar da mochila. acabar o trabalho e correr para a praia para voltar a entrar para dentro d'água a tempo de ver o pôr-do-sol. deitar-me em cima da prancha depois de curtir umas boas direitas e simplesmente deixar-me ser embalada pelo mar. sentir o cheiro. o sabor a água salgada que seca os lábios mas que sara feridas e sacia ânsias e cura tudo.

já não vou para dentro d'água à cerca de seis anos. mas fica aqui a promessa.
voltarei a surfar uma última onda em tua honra. isso podes ter tu a certeza.

há músicas assim. o encantamento é arrebatador.
as palavras parecem evaporar. nada as explica. nada mais importa.
é como beber um chá quente num dia em que as mãos parecem ter morrido por falta de toque e desesperadamente procuram aquecer-se por arrastamento. a melodia soa a casa e nós só nos queremos aninhar a um canto. e ficar por lá. a ouvir sininhos e sonhar acordada com bolas de sabão.

1.11.10


tenho uma amiga que tem um cão que larga pelo e que agora também pode escrever aqui. é a amiga mais forte que tenho e dela espero sempre essa força. é a essência dela. obriga-me a estar bem, mesmo que já seja tão facíl estar neste muro de lamentações. ela obriga-me a reagir, mesmo quando eu só quero é que tenham pena de mim e me dêm colo. ela é essa força. sinto-me protegida com ela, talvez por ser esse pilar que eu não consigo ser. com força desejo que ela seja feliz. somos diferentes e contudo foi com ela que pela primeira vez senti que era possível darem-me valor. que é possível ter uma amiga que se preocupa. já tinha desistido disso há muito, de ter uma amiga assim. ela é a minha vitamina c.



bem vinda minha amiga.