25.12.10


22.12.10

período de nojo


já várias pessoas tinham tentado mas tu foste o único que estiveste perto de me conseguir envergonhar e enxovalhar ao ponto de quase me desfazeres.

diz-me, não estranhaste que «uau» fosse a única palavra de retorno àquela ode insultuosa? já me devias conhecer melhor joão. já me devias conhecer melhor. vamos fazer o seguinte, já que tu lavaste a louça eu limpo e arrumo. a casa quer-se arrumada duma vez por todas.

nunca te exigi nada. pedi.
nunca cobrei. só nunca consegui aceitar uma amizade feita de resíduos (que se provaram hoje, toxicos).
nunca esperei que me considerasses a tua melhor amiga, mas acredita, nunca pensei que me visses como alvo a abater. inimiga que nem ‘arqui’ chega a ser. massa a destruir. alguém assim tão feio. alguém por quem não temos em conta as palavras duras que utilizamos para as abalroar. desconhecia esta tua esquina. não quero lá voltar a passar. já lá fui atropelada uma vez, não me voltas a apanhar distraída.
nunca quis ser tua confidente. com medo por receio de saber tudo ou saber demais. queria sim, conseguir ter conversas práticas circunstanciais sobre o dia-a-dia sobre tudo e sobre nada sobre o livro que estás a ler ou sobre o último filme que viste sobre o frio e a neve sobre os lugares que visitas e sobre a comida que se baseia em massas pão e tomate. eu falar-te-ia do livro que ainda não li do filme que quero ver e da nova música que explica a razão da pele-de-galinha. porque eu sou assim. e já devias saber disso. não queria segredos queria banalidades. o mesmo tipo de conversa que se tem com alguém com quem nos cruzamos na rua e ficamos contentes por reencontrar. a quem sorrimos e mostramos o coração nos dentes. só porque somos simpáticos sem qualquer outra razão adicional. nunca quis mais do que outrora já tinha tido, mas que vergonhosamente perdi. talvez entre palavras mal traduzidas do teu espanhol talvez entre um ou outro erro ortográfico meu. queria uma amizade. uma amizade das boas sincera e verdadeira. independentemente da distância e dos dois mil e quinhentos kms e temas e expectativas e realizações. tenho uma grande dificuldade em entender como se pode querer mal a alguém que sempre nos desejou bem. isso cheira a cruel desnível emocional. sim, porque dá para entender em cada palavra tua. principalmente quando depois de me atirares para o chão de me rasgares a roupa por mera humilhação e pontapeares o estômago vezes repetidas sem dó nem piedade terminas dizendo que esperas que encontre paz. porra, deixa de ser um-sacana-ironico-sem-coração, ou talvez, e arrisco em dizer dado o avançado da hora da tua mensagem, não respondas a e-mails inocentes com alcool a mais no sangue! (agora sim, uma ofensa para uma condenação injusta, mas que dá para entender o quanto eu já me estou a lixar para a absolvição, não a espero e já nem a quero).

preciso que percebas que quando chamo «período de nojo», «nojo» significa mesmo nojo.
declaro-me emocionalmente falida. e a culpa não é da chuva ou do sol ou da pedra da calçada ou do vinil riscado ou do cheiro do casaco que insistes em deixar para trás. a culpa é disto:

21.12.10

is diving diving diving diving off the balcony



nunca fui muito boa com coisas de encaixes e coisas partidas. ou a mentir e a dizer que não fui eu, aconteceu.
estou a disposta a não invadir. estarás tu disposto a me deixar entrar?

19.12.10

vê como cresci.
vê como são leves as minhas mãos vazias do teu corpo.

18.12.10



... e a culpa é minha que deixei a jugular à mercê da tua vontade.

17.12.10


acabei de chegar da rua. o frio atravessa as camadas de roupa e confere-lhes uma incompetência irritante. recuso-me a voltar a sair.

cold war



tenho um parecer mui sui géneris acerca da humanidade.
decididamente não faço parte dela.

16.12.10

acho
que
estou
a
precisar
de
um
amor
inteiramente
estéril
e
não
criativo.

14.12.10

my bonnie lies over the ocean

12.12.10

o muro de berlim só caiu uma vez, reza a história.


obrigas-me a expurgar-te da minha vida, como se fosses uma nova peste negra. encostas-me literalmente contra a parede e fazes-me procurar um medidor emocional de amor. será que vale a pena? será? será? não seria melhor uma bomba? sim, sou dramática, principalmente às terças, quintas e sábados. o meu amor por ti tornou-me numa bombista-suicida. sem causa nobre e sem líderes despotistas. só eu e a minha jihad depressiva.
i knew that my love would tear us apart. o meu. não chegou pelos dois. nada resiste a uma peste negra não é?

hoje teve de ser. o dia chegou. fiz-te o funeral, não foi digno, confesso. não tiveste flores, ninguém leu oscar wilde, nem houve nenhum discurso de puxar a lágrima, a tua ausência secou-as enquanto elas se formavam e nunca regressaste para as ver cair. foi na varanda, achei que ias gostar do sítio para descansar em paz. o chão é frio, gelar-te-ía o coração, caso o tivesses.
enquanto te enterrava cada vez mais fundo na minha alma, na madrugada continuavas naquele ninho que foi a varanda. inerte enquanto passava na rádio o let me kiss you. não para ti. não para nós. para alguns amores imaginários que na sombra da noite regressam.

ainda me assombra a maneira exacta como fumas, just like ian. se calhar já nem fumas. se calhar ainda fumas só porque eu quero. com uma delicadeza assombrosa e de mão aberta e me faz rever-te nele. e chorar com ele. sem debbies ou anniks. és tão ele e nunca meu.
eu sei este foi o primeiro passo para me afastar. a giant leap to mankind. pelo menos para a minha sanidade... mas a impotência perante a tua ausência que me arrasta leva-me ao desejo de uma confrontação. apetecia-me gritar com contigo e chamar-te sacana e assim justificar o teu silêncio, mas não o faço. meros delírios de coração sofrido. em vez disso junto o meu silêncio ao teu e ficamos os dois em silêncio. cada um com o seu. não há cá misturas. e desta vez é de vez. desta vez é de vez. desta vez é de vez. de vez.


a benzodiazepina é a minha nova melhor amiga. my new tyler durden. por aqui vai-se sobrevivendo a paz induzida. só hoje já foram três de embuchada, as they say.

11.12.10

you always makin' big plans for tomorrow. you know why?
because you always fuckin' up today.




filme atemporal de um dos meus realizadores fetiche.
calor espaços desertos uma cidade praticamente abandonada. uma mulher sentada na varanda a contemplar a passagem do tempo e de fundo uma canção bêbada a gingar. um dj fracassado, um chulo-decadente-sonhador e um estrangeiro que fala um inglês manhoso. o gosto a fracasso é o fio da meada que os une. singulares afinidades. a sensação de vazio é inerente tanto aos personagens quanto à cidade em que vivem. figuras sem lugar no sonho americano. quase lembra os velhos heróis beatniks marcados por um tom mais cínico com sabor de ressaca. a dificuldade de comunicação na conversa dos três serve para acentuar o traço tragicômico de um diálogo feito de silêncios gestos olhares pronúncias erradas pequenas glórias lembranças e sonhos. a fuga.

entre verniz vermelho unhas pés o jarmusch plutarco e estúpidas teses a anunciar a iminência de mais um corte – vamos ver quem se espatifa primeiro. para que a dor seja mais leve, estamos cá.
porque a dor é nossa e num estúpido impulso bato pé e teimo com ele.
to heel pain... nail polisher....


heartbreak.
when you love somebody all you get is a mouth full of blood.

quer-me parecer que as unhas dos pés e mãos ficam a condizer.
faz 'pandan'

9.12.10


pára de racionalizar. pára de racionalizar. pára de racionalizar.

às vezes acho que a capacidade de raciocinar é uma menos valia para muita gente. julgo que seria muito mais feliz se pensasse muito menos.

8.12.10


pareces um artista de circo caído em desgraça e tento imaginar-te com uma bola no nariz. não funciona – os palhaços quanto muito são tristes, não têm aqueles olhos melífluos. és um estratega e só tarde demais me veio à ideia a hipótese da malvadez da tua conversa. a aura de entretenimento esfumou-se no instante em que o meu sorriso perdeu a graça e se transformou num gesto mecânico.
não me retiro culpas. a verdade é que me deixei embalar e só quando o aviso agudo da auto-preservação se fez sentir é que fugi - mas tu fugiste primeiro. ninguém me tira da cabeça que aquilo foi fugir; ensinam-nos evitar sempre os confrontos e a violência. não foi engano.


7.12.10

silence my dear,
let the images speak and
listen to the sound of my broken drum


6.12.10



o amor nunca morre de morte natural. ele morre porque nós não sabemos como renovar a sua fonte. morre de cegueira e dos erros e das traições . morre de doença e das feridas; morre de exaustão, das devastações, da falta de brilho . anaïs nin

a pele que há em mim

quando o dia entardeceu
e o teu corpo tocou
num recanto do meu
uma dança acordou
e o sol apareceu
de gigante ficou
num instante apagou
o sereno do céu

e a calma a aguardar lugar em mim
o desejo a contar segundo o fim.
foi num ar que te deu
e o teu canto mudou
e o teu corpo do meu
uma trança arrancou
o sangue arrefeceu
e o meu pé aterrou
minha voz sussurrou
o meu sonho morreu

dá-me o mar, o meu rio, minha calçada.
dá-me o quarto vazio da minha casa
vou deixar-te no fio da tua fala.
sobre a pele que há em mim
tu não sabes nada.

e com uma força que não se pode dizer chega a atravessar me o peito.
em primeira mão.
em primeira mão.




hoje é um dia desses. talvez a enxurrada, as chuvas e a lama ajudem as lágrimas que tardam. não me importo de ficar mais suja. não sou a holly golightly à procura do gato numa ny chuvosa, nem tenho que manter as aparências.

4.12.10

day one


jantar e sangria muita sangria. agora vamos que se faz tarde e já se perdeu jorge palma. b fachada e sérgio godinho na sala um do são jorge. anda. corre coxo que o bernardo já canta. canta e torna-se mais querido só por nos achar queridos. a mariana marca o ritmo e o martim também lá estava e ainda nem eram 5 prá meia noite. e ele canta músicas que ainda não foram lançadas mas nós já as estamos a ouvir. em primeira mão. músicas para pequenos e graúdos oferecidas como prendas dum natal que ainda não chegou. depois chamou a francisca, diz serem amigos de infância. inveja. inveja da boa mas que não deixa de ser inveja. de seguida, primeiro entra a voz depois aparece o sérgio godinho que vem trazer um novo estatudo àquela sala. canta umas poucas e vai embora. e nós lá ficámos. sentados. de princípio a fim. ninguém arreda pé. the shoes owen pallett e pinto ferreira ficam para uma próxima. afinal está implícita uma emoção forte em rebentar com os planos e conseguir tornar a noite ainda mais excitante e recheada de imprevistos. anda. corre coxo. vamos enfrentar a fila do teatro tivolli para ir ouvir a voz dos bloc party. o que trocou post-punk por uma música obscura mas dançável. não. espera. vamos fazer xixi. e olha, vês o gelo que afinal não é gelo em cima do contentor de electricidade? não. mas as linhas vês não vês? sim. e devíamos ter trazido sangria numa garrafa de litro e meio que está frio e eu estou seca. vá, vamos voltar para a fila. ou talvez não. a hora da zola jesus está a chegar e isso não perco nem por nada. volta para dentro do são jorge e bebe. bebe rápido essa cerveja. tu dizes vai e eu respondo fico. eu sei que ele me deixa entrar pela porta da cavala mas sem ti não vou. anda. quero mostrar-te a menina que cantava opera e agora canta isto. esta coisa que arrepia peles e dissolve qualquer resistência que tenhas. conquistou-te assim logo à primeira e tu nem sabes como. loira e de calças esfrangalhadas basta-lhe um companheiro de palco para arrebatar plateias e exponenciar emoções. ela ocupa um palco que por muito grande que seja não lhe é suficiente. ela é grande. e a sua voz ainda é maior. pela última vez te digo coxo. anda. corre. waves já estão quase a tocar.

acho que estou pronta para o dia dois. vamos?

1.12.10

palavras sem-abrigo



sem-abrigo#1:
e só nos resta ficar aqui, nesta cama de caixas de cartão a olhar para as horas e a conversar. e amanhã logo se vê o que acontece.

sem-abrigo#2:
amanhã acontece mais um dia.
é só mais um dia.

já ao longe ainda ouvi um deles dizer
deixei de fazer planos com prazo. os planos saem-me sempre furados.


porra, é daquelas histórias que merecia ter discurso directo.
e esta foi música emprestada pelos radiohead em 2009 para campanha de apoio aos sem-abrigos. achei apropriada.