18.7.10

agora com o coração já sem peso. depois da instabilidade vivida com sentimentos desbotados e enrugados pelo tempo. da palavra inquieta pela urgência que levou à confissão que levou ao silêncio. compreendo agora que talvez me tenha tentado refugiar no segredo do teu abrigo já ferida de outros combates. que talvez te tenha tentado conduzir a um lugar sem tempo nem contornos. exausta dos combates. presa àquele lugar àquele tempo naquele preciso momento em que a perfeição resolveu aparecer sem aviso prévio sem pudor e sem razão. esta constante incoerência magoa-me. e esta estúpida carência dos teus lábios levou-me a aprender que a vida deve ser bebida quando os lábios estiverem já mortos. educadamente mortos. só assim não se sentirão presos mas sem morada e vagabundos. longe de ti sou fraca e pergunto-me se o tempo nada trás e se já tudo levou e justifico constantes balanços negativos com fúria controlada mas veias a latejar. porque se tu és fogo eu sou cinzas. porque neste doce engano de que de tudo somos donos sem na verdade nada possuirmos e de pés frios, sou aquela que só quer um suspiro em paz, a mórbida necessitada de atenção e de um beijo no lábio de baixo a deixar o de cima impaciente e de castigo, para depois surpreender os dois ao mesmo tempo num beijo apoteótico, digno de uma scarlett.

não mais do que isso. não menos, isso não.