16.11.10

a guerra fria e eu de lábios vermelhos

prova viva de que estava teatralmente bem para o mundo ver.
o baton vermelho destaca-me das outras, convenço-me. não é nada um lugar-comum.



vermelho-beija-me. há vermelho-apazigua-me. há vermelho-excitante. há vermelho-clássico. há vermelho-provocador. há vermelho-sozinho. há vermelho-sangue. há vermelho-toma-me. há vermelho-a-dois. e há vermelho-mau. vermelho, vermelho. vermelho. logo eu que também não percebo as cores complementares.

hoje no metro, uma menina disse à outra : 'ela tem os lábios vermelhos, não são cor-de-pele como os nossos, também quero.' ouvi, e inevitavelmente sorri, porque aos quatro anos mal elas sabem que era vermelho-mau. e quis esborratar-me de seguida mas não as quis desiludir em plena carruagem e fazê-las conhecer o joker-do-amor cedo de mais.

foste tu o godard e a sua marie que me convenceram a pintar os lábios de vermelho. mas agora apareces com palavras estupidamente francesas e sem modos queres repetir me sem primeiro secares lágrimas e desatares os nós. errado. e já te disse que os lençóis não são para comer enquanto gastas o meu nome.

é o fim meu amor, é o fim.

não sei até que ponto este momento não exigia algo mais solene. mas sem grandes aparatos fecham-se as cortinas e assim pode ser que o coração nem dê conta.