10.5.10

celebrate your dreams when you are away

entre voo cancelado e burocracias até às três. os pés não se coibiram de andar e palmilhar lisboa e o coração não se sentiu desamparado nem por um minuto estando entre risos e lágrimas e abraços e palavras de saudade prepétuadas em polaroids amarelas queimadas e tremidas com uma máquina que só vê o mundo a sépia .
a mesma calçada lisboeta que antes me lembrava uma colecção de mágoas hoje traz-me a vontade de voltar a colar pedaços duma alma partida. e com isso aparece um aroma de bouquets do passado com um sabor já não tão amargo. talvez nos seja essencial manter uma distância sobre o que nos magoa e nos põe o dedo na ferida - penso eu. recuarmos para um lugar seguro e deixar as dores cicatrizarem para que então tudo pareça menos feio. a distância e o álcool têm poderes incalculáveis sobre as pessoas, fazendo a pele transpirar uma verdade que antes se desconhecia e uma desenvoltura nas palavras mesmo já com a língua a reclamar protagonismo porque se torna urgente falar e justificar e fazer entender.

girl dry your eyes a soulmate never dies

os olhos não mentem e a boca distrai a mão que teimosa insiste em procurar a tua sem causa nem justificação. de respiração acelerada e coração tímido porque já não trabalha faz tempo mas que corajoso se atira para a frente e implora que lhe limpes o pó e o vivas hoje com o mesmo entusiasmo de ontem. que lhe apagues o mau que ficou e o faças acordar de imediato à pressa porque os dias correm e não tarda vou voar. porque um dia o meu coração sem o teu soube que não era coração era massa que batia sem ritmo sem sangue sem destino. mas o passado não alimenta mais o presente e o que outrora já foi vive hoje num sótão assombrado. mas os olhos não mentem e por isso e de hoje em diante terei legitimidade para usar verbos na primeira conjugação dum pretérito mais-que-perfeito. só porque os olhos não mentem.


esta hoje desceu devagarinho que nem línguas de fogo sobre mim