8.7.09

Vou ver-me obrigada a entrar num retórico mas exacto conceito, ao dizer que num segundo tudo muda. Num segundo, o que não era passa a ser. Num segundo, a cabeça antes tranquila, entra num rebuliço de quês e porquês. E facilmente, dadas as circunstâncias, o que já não era um problema volta a ser, o que estava arrumado entra em corrupio e o que se esperava, mas não se queria, acontece.

Hoje, quero honrar com um saudosismo esperado mas sem tristeza, uma alma que hoje nos deixou. Alguém que chamava de avó por amor apesar de não partilhar sangue, alguém que me viu crescer e tornar mulher, alguém que me recebia sempre com a mesma frase nada apetecível, mas carregada de ternura.

Alguém, que sempre me recebeu de braços escancarados.

Recuso-me a encarar a morte como uma coisa má, algo que é temível, (não, com isso, que a ache apetecível!), mas a verdade é que gosto de acreditar, que do outro lado, não sendo obrigatoriamente um jardim idílico ou um inferno terrível, nos estará reservada, uma paz que irá tornar o cenário simplesmente obsoleto.

A carne vive e morre, mas a alma evolui sem limite nem fim.

A morte não tem de ser dura, nua e crua, a morte, não pode ser o fim de tudo sem poder fazer nada.
A morte, como fim, faz com que a vida, num todo, deixe de fazer sentido.
A vida é curta e ocupada e não deixa tempo para por em prática o que se aprende, o que se sonha, o que se quer. Na maior parte das vezes, quando finalmente aprendemos algumas lições e elas se entranham, já estamos velhos e sem vitalidade, tudo começa a passar por nós, sem ser parte de nós, mas sim, dum outro, de alguém que conta.

Por isso, acredito veemente na existência da Alma. Seja ela gémea, companheira ou só mais uma que, connosco se cruza, mesmo que nada nos traga. Acredito, que se multiplica e se reconhece. Acredito, que o Nirvana é o objectivo, sem ser algo tão imediato que se torne possível na duração de uma vida, (mesmo que sejam noventa e quatro anos).

Hoje, a evitar lágrimas, comemoro recordando todas as histórias que poderiam ser contadas.