5.10.09

quase 31

hoje foi dia de arrumações. para a direita o que é à direita. para a esquerda o que lá pertence. e sem demoras para o fundo do baú, o que já lá devia ter sido arrumado faz muito tempo. tempo demais. chega de palavras mansas, suplicadas e perdidas. chega de tentativas que perdem o rumo por falta de quem as queira receber.
fechar o barraco e correr as cortinas, de vez. o ciclo agora já sem retorno, diz adeus.

parem lágrimas que para nada servem. parem loopings emocionais que só deixam em pura náusea o que ainda resta.
a realidade prega rasteiras que fazem esfolar joelhos. cotovelos doridos. dedos cautelosos e coração já em farrapos, sem dó nem piedade.

e a maldade humana que não é assimilada de vez! que não ganha lugar nesta consciência e assim cria imunidade nesta carcaça que luta contra a inocência que ainda se faz sentir, isto, apesar da contagem decrescente para mais um cálculo de matemática da vida. as primaveras. que se contam e recontam e obrigam a um rescaldo. a um balanço do que se tem e do que não se tem. tão cruel quanto isso. os anos que passam e que não há maneira de trazerem o que outrora foi dado como garantido nos planos a longo prazo.

quase trinta e um.

trinta e um anos de possibilidades. de hipóteses. algumas agarradas, outras perdidas ou nem reconhecidas. serei um fracasso? terei fracassado? dúvidas e mais dúvidas de uma mente confusa e de um coração que já mal bate.
fraca.
fraquinha.
fraquíssima.
a maldade humana alimentasse disso. da fraqueza. e principalmente da franqueza com que é dito. a verdade choca. causa repúdio aos que têm dificuldades em lidar com ela. aos que se acham mais e melhores do que sentimentos que deixam a vulnerabilidade a pairar no ar. os muitos que se acham fortes e impenetráveis a carências e agem com uma arrogância que só essa passividade sentimental lhes traz. mas por outro lado é de supor que quem age assim, é porque também tem uma ferida escancarada que teima em não cicatrizar.
dá que pensar, não dá?
cada um resguarda-se do Mundo como melhor sabe. não aponto o dedo. não apontar o dedo foi uma lição que aprendi ao longo destes quase trinta e um. mas confesso que essa arrogância, subtil, mas presente neste meu estado de espírito que não sossega, revolta.
revolta este estado que tem sempre o impulso, de dizer, de gritar para não se calar. para não aceitar, inerte e permissivo.

já disse que estou quase a fazer trinta e um?

bem, vou arrumar tudo bem arrumadinho na gaveta que fica por detrás daquela que nunca abro. vou esconder tudo lá no fundo para não voltar a lidar. é isso que vou fazer. em vez tentar resolver o que não tem solução. vou esconder para esquecer.
longe da vista longe do coração.
olhos que não vêem, coração que não sente. os ditados populares têm sempre razão.

o povo sabe o que diz e hoje está a chover.