6.3.10

have one on me

e ao que parece o vento levou o que ainda restava. já não te respiro de longe e o meu corpo já não te sente a falta. neste espaço em que tantas palavras desamparadas procuraram um conforto nunca encontrado entre desejos escondidos e camuflados sinto que finalmente posso dizer adeus. secaste-me as lágrimas a pontapé e eu gritei o teu nome em espirais nunca dantes ouvidas. gritei em silêncio por ti e quis que o teu corpo apagasse as dúvidas e as incertezas que se tinham apoderado de mim. enchi os pulmões e gritei. gritei com palavras mudas e acreditei que virias ao meu encontro mas não vieste. esperei por ti em vão. e agora grito que já não te espero mais. encho os pulmões de ar e calo-me para ganhar forças e recomeçar e reconstruir e seguir este novo caminho agora já sem percorreres as minhas veias e o meu leito já não ser teu. neste meu sentir imperfeito e abandonado que de tão solitário padeceu. neste amor-combate que não escapou a um esquecimento que de todo foi prematuro e morreu de velhice e tristeza. porque é possível a tristeza matar. é possível rasgar em mil pedaços um coração estancar um sangue e apagar um fogo e uma paixão. mas porque acredito que aos oitenta e um será possível lembrar-me da tua cara sem me lembrar do que me fizeste sentir. porque é assim que acontece num mundo perfeito. no meu mundo. naquele mundo que não te pareceu suficiente e ao qual viraste a cara sem pingo de arrependimento. sem olhar para trás. hoje levanto-me sacudo as mãos e curo joelhos esfolados com uma certeza recente de que tudo vai ficar bem. de que o que o vento levou há-de voltar a trazer mesmo que com novas silabadas a serem sussurradas e entoadas e que um dia serão gritadas porque um dia voltarei a ser número par.


Farewell to loves that I have known.

Even muddiest waters run.