26.10.10

magnifico material inútil

quis conhecer-te e perdi-me de mim.
talvez não tenhas passado de
um platonismo meu. ou então
és só mesmo narciso de mãos fortes
que abraçam a nuca num adeus seguido
de dois beijos dramáticos e apoteóticos
de uma verdadeira despedida. não.
não houve nada disso. ou se calhar
até houve. sofro de visões imprecisas e
distorcidas. enganos. troço de mim mesma,
sou a minha melhor piada de sempre.
ridicularizo-me. sou ophelia num charco.
achei que querias passar a fronteira e
amparar-me mas estava errada.
agora, em surdina, peço-te que fiques longe,
não preciso de mais emigrantes ilegais. conforta-me
de longe, por favor. já não quero conhecer
a tua textura nem o teu sabor. ampara-me daí,
chega. mal te conheço mas imagino a forma exacta
que a tua mão cai como uma concha
sobre o teu peito quando te deitas. e
isso comove-me. não te conheço e sei quantas
pestanas te caem por dia e quantos desejos
desperdiças.
há espaços que se nos tornam interditos, espaços
de encanto ou de hábito ou de ambos.
inesperadamente, todos os espaços
são proibitivos e as artérias transformam-se
em barreiras e valas e fossas que nem os nossos pés
nem a nossa vontade querem experimentar.
porque assim é que tem de ser. só porque assim
é que tem de ficar. um estúpido platonismo.
sem eira nem
beira.