Pergunto: e as que contra a nossa vontade deixam de fazer parte dela? As que não há dia que passe sem deixarmos de esboçar um sorriso escondido pelo despropósito de uma lembrança que se decidiu colar à memória e se recusa a cair no esquecimento.
Luto contra a ideia de acreditar que a vontade de me manter ligada já ultrapassou o ridículo. Que a falta de bom-senso se apoderou de mim.
Mas qual é o limite de palavras e actos envergonhados que se podem atirar sem retorno até que a mão se dê à palmatória e decida aceitar que não existe forma de segurar o que não quer ser segurado?
Não há muito tempo atrás, a resposta a qualquer pergunta que envolvesse admitir o que realmente sentia, era vomitada por mim como algo fora de prazo, acho que andava zangada com os dias e com as noites, com as horas e os minutos.
Mas quando confrontada com a ideia de perder, algo em mim dobrou, cedeu e acedeu à mão que se estendeu do coração que gritou e decidiu dizer o que antes não tinha coragem sequer pensar.
Benigni no filme O Tigre e a Neve ou o Massimo n'O Carteiro de Pablo Neruda, as suas personagens, decidem ser poetas por terem descoberto que escolhendo bem cada palavra, conseguiam fazer sentir através de metáforas ou jogos linguísticos, a alegria desmedida com um pequeno pássaro, um revolucionário amor ou uma eterna devoção.
Afinal, escrever é a melhor forma de falar sem ser interrompida.