3.9.09


Tonet, diz que as pessoas entram na nossa vida por acaso, mas que não é por acaso que elas permanecem.


Pergunto: e as que contra a nossa vontade deixam de fazer parte dela? As que não há dia que passe sem deixarmos de esboçar um sorriso escondido pelo despropósito de uma lembrança que se decidiu colar à memória e se recusa a cair no esquecimento.


Luto contra a ideia de acreditar que a vontade de me manter ligada já ultrapassou o ridículo. Que a falta de bom-senso se apoderou de mim.

Mas qual é o limite de palavras e actos envergonhados que se podem atirar sem retorno até que a mão se dê à palmatória e decida aceitar que não existe forma de segurar o que não quer ser segurado?


Não há muito tempo atrás, a resposta a qualquer pergunta que envolvesse admitir o que realmente sentia, era vomitada por mim como algo fora de prazo, acho que andava zangada com os dias e com as noites, com as horas e os minutos.


Mas quando confrontada com a ideia de perder, algo em mim dobrou, cedeu e acedeu à mão que se estendeu do coração que gritou e decidiu dizer o que antes não tinha coragem sequer pensar.


Julgo que foi um processo de regeneração, tipo o rabo da lagarta.


Benigni no filme O Tigre e a Neve ou o Massimo n'O Carteiro de Pablo Neruda, as suas personagens, decidem ser poetas por terem descoberto que escolhendo bem cada palavra, conseguiam fazer sentir através de metáforas ou jogos linguísticos, a alegria desmedida com um pequeno pássaro, um revolucionário amor ou uma eterna devoção.


De certa forma, julgo que é com essa humilde e desconjuntada pretensão que por vezes aqui escrevo e deixo um pedaço de mim, que afirmo a minha tristeza com determinados actos ou ausência deles.Sabendo de antemão o risco de me expor, sem medo, escrevo sempre o que me vai na alma, o que não se descola da minha memória e, por vezes, até o que o meu corpo sente falta.


As minhas paixões tornam-se públicas, os meus "desamores" são escrutinados por terceiros sem dó nem piedade e as amizades desmanchadas são assim perpetuadas para o bem e para o mal, contudo, sinto-me sempre mais leve. De certa forma foi feita justiça. Disse o que não podia ser guardado mesmo não tendo sido ouvido, mas digo.


Afinal, escrever é a melhor forma de falar sem ser interrompida.