6.6.10

Amor cachorro e dois minutos

diz-se que este é um canto de mitos, às vezes exagerados e demasiado fabricados, outras vezes dos involuntários que influenciam o nosso andar que nascem por urgência e por sobrevivência a explicar o sentido da rolha partida na garrafa. que têm de estar entre nós por aquilo que têm nas veias e que tem imperativamente de vir ver o mundo. das mágoas mais graves e do canto mais sereno.

sou menina nómada e dorida na profundidade de cada sílaba que entoo e que me abre o peito como se fosse a primeira vez que respirasse sem ajuda. e a viagem, essa é nossa meu querido, começa na curva do teu peito e termina na plataforma do comboio para o norte.
borro o papel e procuro as palavras, inútil é isso que faço. procurar-te em palavras que não chegam nem nos vestem das cores que somos por dentro, tu e eu. mas daqui para a frente bem que o pé pode teimar em procurar o último e intocado recanto fresco do lençol porque nessa busca sonolenta só se vai chatear por não encontrar o teu. e as mãos-de-fada num fado que nos acompanha. queres que te faça uma massagem? a juntar dois corpos como peças de um puzzle que ainda nem foi pensado. e as manhãs que ameaçam nunca mais começar com beijos que percorrem a espinha e piadas das que soltam uma gargalhada ainda rouca. dos corpos que transpiram álcool. do meu sangue o teu vinho. para os apaixonados é vinho do bom e que dá pouca ressaca. para os outros, os falsetes dionisianos sempre foram golpes nocturnos baixos. é o toque a rasgar e o vermelho muito vermelho em peles arrepiadas. é vinho a correr nas veias do que não traz ressaca. vinho mau, vinho bom. do que faz chorar e do que faz amassar a roupa e perder a respiração numa esquina sem luz. o charme e a confiança de quem enche o copo, o encantamento de quem bebe e quer ser levado por braços de sangue quente. para os apaixonados o vinho é o sangue e o sangue é o vinho. sem ressaca pela manhã e a aguentar de pé para nos perdermos por lisboa e o teu tempo no meu pulso. o nosso tempo.

foi tudo tão pacifico, tão bom, tão divertido, tão intenso caraças. – diz ele.