21.6.10




morreu quem em vida fez prova de que não se precisa ser letrado para explicar a alma. quem por altos valores morais conquistou o direito a contestar e afrontar e de fugir às matilhas porque ele sabia do que falava. e foste tu. sim tu. a culpa foi tua e já tu confessei. a forma como o descrevias. a admiração o respeito a quase devoção. a intensidade com que sentias cada palavra do mestre e o orgulho que transpiravas.

existem pessoas assim. pessoas que na mais bonita das partilhas nos fazem ver o Mundo dum outro prisma. que têm a capacidade de nos mudar o raciocínio e fazer encontrar novos caminhos. a frontalidade que nos trazia em cada palavra como se até ao momento ela não tivesse valor ou peso ou significado ou uma intensidade que até então se desconhecia. é isso, ele era um daqueles senhores com a capacidade de dar corpo às palavras. ele não as usava indevidamente nem lhes tirava rumo. ele dá-va alma às palavras desalmadas. ele ia buscá-las aquele sítio. mais à esquerda, isso. elas magoavam, doíam, e acalmavam no fim a fazer lembrar o rouxinol do oscar wilde que durante noites seguidas cantou o amor que a morte não leva com espinhos a ferirem-lhe o coração. ficará como um mito dos mais belos, dos reais dos que vivem connosco e passaremos a outros, aos que as suas palavras ainda não tenham tocado ou chegado.


ficou o legado. vou sentir a falta dele e a culpa é tua.