24.6.10

és arbitro do amor - diz ela. logo eu que me sinto uma scarlett de amor levado pelo vento e de relações falhadas pela ausência do sentir. que não precisei de um punhado de terra vermelha em mãos para jurar não me tornar uma isolda e morrer de amor. mas que sonho ser uma personagem de dante numa divina comédia e ler-te o amor de lancelot and guinevere porque um amor pode começar assim. «aceita as minhas veias que são tuas agora e já eram tuas ontem e serão tuas amanhã basta que as queiras e serão tuas imploro-te que não as rejeites e que não lhes cortes a vida que ainda lhes resta». vivo cada sílaba e quase sinto a pele a arrepiar e o coração a parar e num rasgo nostálgico sinto-me tentada a pedir ajuda ao nosso querido saramago porque ele sabe e porque tu ouves sempre o que ele tem a dizer. «se o teu coração é de ferro, bom proveito. o meu, é de carne e sangra todos os dias.» quase te imagino a encolher ombros e a dizer o meu nome num tom articulado com um coração tal e qual saramago descreve. digo que foi triste ver que a tua sensibilidade não se destacava da dos outros com quem agora te igualo. entre todos os outros que não diferentes de ti, se fecharam e se afastaram ainda dentro da mesma fronteira. como pudeste tu virar a cara a um amor «sonhado com gestos rotineiros e com atrevimentos pueris na esperança que a tua mão corresse em meu socorro e entendesse o que eu queria que me agarrasses e me fizesses tua à força com um amor violento por possessão porque sabes que num amor assim a violência não faz sangrar pelo contrário estanca as dúvidas e cura as incertezas» implorei que me virasses a pele do avesso para a tua chegada e tu viraste a cara. e agora sei que mesmo que voltes à terra, para mim não voltarás tu meu amor. que nunca ditarás a corrente das minhas veias e que nem eu e nem as minhas veias ficaremos no teu leito e que o teu leito nunca lhes irá pertencer. «cala-me e diz-me sempre que vai tudo ficar bem que antes não estava que um dia pode voltar a não estar que os vícios são uma merda que os joelhos se esfolam e ficam mais bonitos que o futuro é não saber nada desse passado mas ainda assim saber-te a ti e que a tristeza é fonte recorrente dos mais tristes poemas e das noites mais sozinhas dos que são selvagens no coração mas diz-me por favor diz-me que ficará tudo bem que um dia nos vamos ter e voltar a ter e que não vais deixar a minha boca secar.» sei agora que nunca me irás calar. o tempo passa e não pára e a ferida não cura e é das que deixou marca e ficou exposta ao ar. resta assim um coração de carne em ferida e não há volta a dar. tento e tento novamente curar o que não tem cura. anuncio a sua morte precoce mas de nada serve. ele insiste e teima e revoltasse e não aceita parar de bater. porque é burro e porque não aprende nem quer. porque o sangue pode correr desgovernado mas o coração não se permite parar. porque não és tu nem sou eu quem dita correntes e fluxos sanguíneos de amores imaculados. aprendi que o amor está fora do nosso controle e que nem sempre é um pedaço do céu e que nos pode levar a passear pelo inferno. que amar é ir mais além do que nos julgamos capazes. que não há capricho nem inferno nem fogo que o queime porque a pele não arde e aguenta e o coração resiste. que te escrevi uma carta de amor como eloise escreveu a abelard sem finais castrados ou monges e freiras e com pessoa a lembrar a ausência do ridículo no amor.