1.2.09

Pseudo-Crónica de pés frios (em dias de chuva)

Às vezes, quem escreve cansa-se de escrever coisas bonitas, profundas que durem para sempre. Que sejam arrepiantes premonições da vida de quem as lê e que consigam tocar o maior número de pessoas a determinada altura das suas vidas. Chega de querer ser recordado, amado, forjar frases para facilitar a vida a quem nos queira citar no dia em que morrermos. Basta de monólogos para “arrebatar plateias por esse mundo fora”, fazer-se ao mosh de comentários, passear o glamour geek pelo Chiado entre pseudo-intelectuais escanzelados, com camisas de flanela aos quadradinhos e jeens rasgados, como quem prefere gastar o dinheiro na papelaria Bertrand do que numas calças novas.

Chega de tentar entender o mais profundo da nossa alma e com isso sofrer dilacerações repetitivas de traumas vividos e mal sobrevivido. Raisparta a consciência da verdade! Desgraçado seja o sonho que me persegue e não segue… Basta de frustrações diárias e conflitos interiores carregados de amargura e desgostos.

Merda para os balanços do ano... em que o activo tem que ser igual ao passivo mais o capital próprio, mas que na verdade não passa de simples encerramentos para inventario, ou seja, contagem de material físico.
Chega de vizinhos chatos com perguntas inconvenientes. Chega de amores e “desamores” sem ponto de partida e casa de chegada. Chega de pessoas que não sabem o valor de um pedido de desculpas e não reconhecem a força das suas palavras.
Chega de programação imbecil, jornais despidos e lado nenhum para onde fugir. Basta de conversas monotemáticas, espirais de rituais repetidos por milhões de pessoas como tropas de zombies aparentemente bem intencionados.


Chega… Basta! Estou cansada.