27.6.09

Um vício, doses diárias e um apogeu quase orgásmico




É de certa forma inquietante, o vício que o meu eu sente pela música, talvez porque em tempos já houve quem dissesse que tinha sido bafejada pelo dom de cantar e encantar. Mas isso já foi há tanto tempo que nem sei se ainda é válido de se contar, não sei, se passados tantos anos, poderei dizer que pisei palcos, que acompanhei grandes nomes da música portuguesa e que fui aplaudida, de pé, como só as pessoas que têm um dom o são.

Julgo, que obrigar os meus ouvidos a umas doses diárias de notas musicais arriscando acompanhar num tom já meio envergonhado pela falta de treino, prática e confiança, é mesmo assim, acredito, uma forma de continuar a ser eu.

Esse dom foi um dos fenómenos mais importantes que me há tocado viver, ou melhor dizendo, padecer.

Não aprofundei o meu estudo da música, limitando-me a recrear algo que vinha de mim, que eu expulsava do meu interior sem grande controlo. Era algo que simplesmente acontecia, sem explicação, sem regra. E no entanto, esse acaso contribuía para uma reacção nos outros e principalmente, em mim, no meu corpo, na minha carne, no meu efémero coração.

Sei que se tocarmos uma nota num piano, se houver uma guitarra por perto, esta, irá vibrar a mesma nota sem que ninguém a pulse. A isto chama-se Vibração por Simpatia. Sim, é o mesmo que nos faz vibrar com uma pessoa que “nos cai bem”, porque estamos conectados pelo mesmo tipo de nota musical.
E também sei que exsite uma recação bioquimica. A música é considerada uma energía física, o som, repercute na superfície total de nosso corpo, filtra-se através de nossos poros até chegar ao lugar onde se encontram as glândulas endócrinas desequilibrando assim, a produção natural de hormônios. Se existir mais adrenalina que o normal, vamos acabar por observar um aumento da pressão sanguínea e um aumento do ritmo cardíaco. O hormônio, chamado gonadotrofinas, que junto com os hormônios sexuais, tanto masculinos como femininos, são os que produzem reações incontroláveis do organismo fazendo, este, chegar ao orgasmo.

Já senti que a música se apoderava de mim, que eu já não era dona das minhas reacções, que algo que era mais forte do que eu fazia lágrimas caírem-me cara abaixo, que os pelos do meu corpo ficavam erectos, que as minhas mãos soavam, o meu corpo tremia da emoção e o meu coração lutava para continuar a bater e não se entregar a um estado de inércia induzida. Ou pelo contrário, bater tão fortemente que quase conseguia pular a serca e abandonar a sua morada, o meu corpo.