Hoje, volvidos tantos anos desde a última vez que o tinha folheado, eis que por várias razões dos 32 sonetos, este sussurrou-me ao ouvido.
Eu
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
E que nunca na vida me encontrou!
Não percebo de poesia, não sou uma entendida na forma como as frases sentidas se tornam técnicas gramaticais e são reconhecidas por nomes.
Mas sei ler, sei sentir e principalmente, sei reconhecer a sua dor, uma constante até à última página. Dedica-o àqueles que, como ela, também se sentem torturados, pois só esses poderão compreendê-lo, senti-lo de verdade.
Não é fácil compreender tamanhas sensações e sentir-lhes a beleza, mas ela está lá, num ponto que ultrapassa muitos de nós, pois como a própria poetisa escreveu: Ser Poeta é ser mais alto, é ser maior do que os homens!
Florbela Espanca in Livro de Mágoas